Implementar um projeto que ajuda tanto cães sem família como pessoas em situação de reclusão sempre foi o sonho de muitos dos membros da equipa PELOS 2. Dos outros membros, passou a ser:) No entanto, tal como em tudo na vida, o caminho nem sempre é “instagramável”. E porque temos os pés bem assentes no chão, reconhecemos as dificuldades que se nos deparam. Listamos algumas:
. Deixar os cães de volta no canil, pós-sessões. Estão cansados, e felizes. Mas sabemos que queriam mesmo era uma família para regressar, um sítio ao qual chamar de “casa”. Combatemos isto com imagens mentais do dia deles com os educadores, e com a promessa do nosso trabalho diário em prol desse objetivo!
. A máquina burocrática. Isto combatemos com horas no terreno, que nos trazem tantas alegrias!
. As despedidas entre os binómios educador/cão, no final de cada ciclo. Vale-nos ( e lhes!) a experiência, os momentos vividos, e o conhecimento. Expandimos, crescemos – todos.
. As horas – que são curtas. Todos (equipa e beneficiários) queriam que cada hora no terreno se estendesse, para caber mais vivência.
Para cada uma delas, relembramos que tudo se faz um passo de cada vez, sabendo que os passos felizes valem por três!
Cumplicidade, afeto e respeito.
Base fundamental para relações positivas que nutrem as pessoas e as direcionam para uma vivência mais equilibrada. No início de cada ciclo, focamos muito o nosso trabalho na criação de um vínculo positivo e seguro, entre cada educador e o “seu” cão. Relembramos constantemente a importância do respeito e da empatia, do estabelecimento de limites saudáveis, e do reconhecimento do bem-estar do outro. Uma vez criada esta ligação deixamos que a relação estabelecida entre ambos, seja a ponte para a criação de novas relações positivas na vida das educadoras, e dos cães.
“Obrigado a vocês equipa, que me ajudaram a voltar a ter aquilo que perdi há anos…a liberdade de poder ser útil, seja na causa que for. Neste caso, a Tita sentiu-se acolhida por alguém que gostou imenso dela: Eu!
Foi uma experiência única (…) é gratificante para mim saber que deixei a Tita ainda mais feliz, e mais confiante! Obrigado Tita!”
P. Ep de Paços de Ferreira
27-07-2022
“Gostei muito desta experiência, aprendi a ter mais confiança e responsabilidade, e a saber escutar os técnicos. Aprendi a ter muita paciência para obter resultados, isso foi a chave destes três meses!(…)Fiz um grande amigo para a vida. Ambos aprendemos um com o outro. Dei o meu melhor pelo Chester, gostaria de ter mais tempo com ele(…)”
“Características do Chester:
F., EP Paços de Ferreira
07-2022
“O meu cão é: Bonito, simpático, bem-disposto, bastante curioso, super inteligente, obediente, um espalha brasas….”
“(…) As atividades com este cão são fantásticas, (…) ele tranquiliza-me, e por momentos consigo ficar desligado da prisão. Neste projeto “treinei a calma, a paciência, e aprendi a comunicar calmamente com o animal.”
C., EP de Vale do Sousa
O primeiro ciclo da Pelos2 foi um período de aprendizagem, adaptação e crescimento constante, em que pudemos ver pela primeira vez ao vivo e a cores, o impacto do contacto com os cães na pessoa reclusa. Foi possível ver, a cada passo, a evolução dos cães, a relação que criaram com cada um dos educadores, bem como o feeling de missão cumprida.
Agora… há mais 🙂 arrancamos esta semana com o 2º ciclo do projeto, com novos educadores e novos cães nos Estabelecimentos Prisionais de Santa Cruz do Bispo Feminino e Masculino, Vale do Sousa e Paços de Ferreira!
Ao longo da sua participação no projeto, cada um dos educadores foi registando a sua experiência num diário de bordo, para que ficasse devidamente documentado cada avanço nas aprendizagens tanto da pessoa, como do cão. Escrever sobre a experiência facilita a estruturação e a internalização das aprendizagens, e todos os educadores aderiram bem a esta proposta.
Podem ir acompanhando alguns trechos desses diários de bordo, que espelham um pouco daquilo que foram sentindo os nossos educadores!
Somos pelos vínculos que mudam vidas. Sabemos que integrar um cão numa família não significa ter de o comprar – há muitos que aguardam uma hipótese para uma vida feliz em Centros de Recolha Animal. Nesta iniciativa, pretendemos conseguir facilitar o processo de adoção de cães “sem-família”, incluindo-os num processo de treino e educação para a vida em sociedade, para minimizar o impacto da falta de competências sociais e comportamentais que muitas vezes surge nestes cães. Minimizar o número de cães acolhidos em Centro de Recolha Animal, é contribuir para combater um problema de saúde pública, como é o da sobrelotação de canis. Assim, selecionamos, educamos e promovemos a adoção de alguns destes animais, e para isso contamos com a ajuda de pessoas reclusas, com tempo disponível para investir nesta missão.
Por forma a serem integrados na Iniciativa, os cães são selecionados através dos seguintes critérios:
Acrescentar um novo elemento à sua família, neste caso um cão, significará aumentar o número de sorrisos, os momentos de partilha em família, e também aumentar o número de motivos para bons passeios. Sabemos que incluir um cão na sua vida combate o sedentarismo, a sensação de isolamento e solidão, e traz certamente um sem-número de benefícios para o seu quotidiano.
Ao escolher adotar um cão da Pelos 2, além de estar a levar para a sua vida um amigo que precisa de uma família e que vem disposto a ser um bom elemento da sua, levará também um cão que, apesar de estar até então a viver num canil, já terá as bases mínimas de educação para a vida em sociedade – tais como saber andar à trela e competências de obediência básica. Isto constitui-se como um fator facilitador do processo de acolhimento do cão na sua família, tornando mais fácil a inserção do cão no seu dia-a-dia. Para finalizar, sabe também que leva um cão que, antes de fazer parte da sua família, teve uma missão importante para melhorar as competências sociais, emocionais e comportamentais de uma pessoa reclusa.
A DTC Social ® valoriza a relação entre humanos e animais, fomentando as capacidades de comunicação entre ambos. Assenta em princípios de respeito mútuo e de preocupação com a satisfação de necessidades que garantem o bem-estar dos animais em todos os momentos.
As metodologias utilizadas e transmitidas aos reclusos são de base científica, baseadas nos princípios da aprendizagem através de condicionamento. Estas metodologias não só estão comprovadas pela sua eficácia, como são consideradas de vanguarda na área do comportamento animal. A equipa responsável pela formação e acompanhamento in loco da implementação da iniciativa tem experiência e formação em metodologias force free, isto é, sem recurso à utilização da força ou intimidação física ou emocional dos animais. Partindo da relação simbiótica recluso-cão, será mais fácil para o recluso experimentar uma mudança na sua perceção sobre os valores que medeiam todas as relações. Da mesma forma, será também mais fácil para o cão “sem-família” aprender a estar em sociedade, criando relações de confiança com pessoas disponíveis para o ensinar.
A ‘Pelos Dois’ é uma iniciativa que utilizará a construção de uma relação terapêutica entre o recluso e o cão, relação esta que será a base para trabalhar aspetos importantes de uma vida social equilibrada, sejam este de domínio comunicacional, relacional e emocional. É assim uma aposta na reabilitação do recluso, e não apenas na sintomatologia (agressividade, ansiedade e/ou depressão). A capacitação e formação de reclusos para treinar os cães e o trabalho direto com estes últimos, permitirá aos reclusos desenvolver softskills, dotando-os de novas ferramentas para lidar com problemas, para além de promover uma maior regulação emocional. Com isto, e em articulação a conteúdos atitudinais e comunicacionais previstos, pretende-se melhorar o controlo de impulsos, reduzindo os níveis agressividade e proporcionando uma melhoria da capacidade empática do recluso. O cão atuará como um veículo terapêutico e ocupacional, que facilitará a criação de laços afetivos e relacionais em cada binómio Recluso-Cão, espelháveis noutras esferas socio-relacionais dos indivíduos envolvidos.
A ‘Pelos Dois’ é uma iniciativa que incide no desenvolvimento de competências pessoais, sociais e emocionais da pessoa reclusa, apostando na sua reabilitação, através de Intervenções Assistidas por Cães. A Iniciativa desafia os reclusos selecionados a cuidar, educar e treinar cães “sem família”, tornando-os mais “adaptados” à vida em comunidade, promovendo a sua (re)inserção, via adoção, numa fase posterior à Intervenção. Este processo de responsabilização terá a duração de 3 meses para cada grupo de reclusos participantes, e será ciclicamente repetido até ao término da Iniciativa. Estes 3 meses, será o tempo de que dispõe cada participante para educar devidamente cada cão, para que este desenvolva competências comportamentais, atitudinais e de habilidades que propiciem a sua posterior adoção. Ao longo dos três meses, os participantes serão orientados, instruídos e supervisionados para o trato e cuidado dos cães pela equipa de treinadores da DTC Social® (que estarão alocados a tempo inteiro a esta função); Embora o cuidado seja prestado pela pessoa reclusa, os treinadores oficiais da equipa DTC Social® estarão sempre presentes para supervisionar todas as interações recluso-cão, bem como para garantir a qualidade do acompanhamento a cada cão.